Marina Silva continua sem lado para chamar de seu
A cinco meses da eleição presidencial, pré-candidatos já antecipam suas respectivas plataformas eleitorais. Marina Silva, por sua vez, continua sendo a candidata ainda sem lado para chamar de seu
Helena Sthephanowitz, Blog da Helena
A disputa pelo cargo máximo da República já está em pleno andamento, com os candidatos a candidatos já assumindo claramente suas posições e lados, visando as prévias de seus respectivos partidos. Mas Marina Silva – que todos sabem, vai concorrer mais uma vez – continua uma incógnita. Pouco fala e, quando o faz, passa a impressão de ter perdido a oportunidade para se manter em silêncio.
A última declaração pertinente da candidata sobre o conturbado momento político atual do país veio com quase dois anos de atraso, ao criticar o congelamento de investimentos públicos por 20 anos. “Se continuar nesse ritmo, em 2099 ela vai tuitar que foi golpe“, disse a historiadora Anna Zappa, em comentário no Facebook.
Mesmo a pauta que a lançou como liderança popular, a da defesa do meio ambiente, perdeu relevância, depois que ela se calou sobre a tragédia de Mariana, provocada pela mineradora Samarco.
Durante os últimos anos, o golpe parlamentar iniciado por Aécio Neves e o PSDB, levando o emedebista Michel Temer ao poder, interrompeu o mandato da presidenta Dilma Rousseff e mergulhou o Brasil num caos político. Marina se calou.
Ninguém sabe o que Marina pensa sobre a precarização do trabalho, consequência já apontada por diversas entidades, incluindo o Ministério Público do Trabalho, da “reforma” trabalhista. Sem nenhuma aprovação popular nem legitimidade, o ilegítimo Michel Temer promoveu o desmonte da proteção aos direitos dos trabalhadores, mas a ex-senadora não emitiu um pio sequer sobre o tema.
Nem as fartas provas de corrupção contra Michel Temer, seus ministros e boa parte dos deputados e senadores que os livraram de serem processados – inclusive Aécio Neves (PSDB-MG), a quem apoiou no segundo turno das eleições de 2014 –, mereceram comentários de Marina.
Também não se sabe qual a opinião dela sobre Temer ter aniquilado secretarias e ministérios ligados à promoção de direitos da população e ter sido apoiado pelos setores mais retrógrados do país, como os grandes proprietários rurais, religiosos fundamentalistas, grandes e inescrupulosos empresários, e defensores radicais do conservadorismo. O resultado é uma política social, cultural e ecológica desastrosa.
Marina costuma propagar (ainda) que não faz “nem oposição por oposição, nem situação por situação”. Por conta de seu vagar errante entre posições, que muitas vezes é interpretado simplesmente como oportunismo, foi acusada por ex-integrantes da Rede de não se posicionar a respeito das principais questões do momento – lembremos que, no final de 2016, um grupo de seus correligionários debandou do partido afirmando em nota que “a sociedade brasileira não sabe o que pensa a Rede, nem consegue situá-la no espectro político ideológico” .
A Rede Sustentabilidade, partido do qual Marina Silva é fundadora – na prática ela é a dona da legenda –, enfrenta uma crise ideológica e uma debandada de filiados, alguns com mandato. Caso dos deputados federais Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), que mudaram-se para o PSB. Com isso, a legenda ficou com apenas três parlamentares: os deputados Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS) e o senador Randolfe Rodrigues (AP) .
Ter menos de cinco congressistas poderá inclusive impedir a dona da Rede Sustentabilidade de participar dos debates de TV durante a campanha, conforme regra da mini-reforma eleitoral aprovada no ano passado. Mas a dificuldade em dialogar com outras legendas é outro ponto de divergência interna na Rede. O grupo de Marina reluta em formar alianças com outras siglas para ampliar o tempo de exposição na TV em 2018.
E tem mais. A Rede apoia nomes novos na cena política, com destaque para aqueles que utilizam do discurso fajuto de não serem políticos. Caso do líder do ultraconservador Vem Pra Rua, Rogério Chequer – ou seja, pessoal da extrema direita, que apoiou o golpe e está destruindo a democracia brasileira. Segundo apoiadores de Marina, a ideia é reforçar uma estrutura “transversal” aos partidos na Câmara, o que soa como mais uma conversa sem substância.
A conferir se a eterna presidenciável está no aguardo do aceno de algum grupo, venha de que lado vier, de que poderá ser a candidata que o represente. Só então saberemos em qual campo Marina se posicionará nesta eleição.
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