Envolvidos em tráfico de influência no GDF são velhos conhecidos da polícia
Nomes de velhos conhecidos em investigações de fraudes, pagamento de propina e desvios de dinheiro público no Distrito Federal voltam como alvos de operações policiais por suspeita de oferecerem facilidades a empresários. Às vésperas das eleições, a Polícia Civil deflagra ação que investiga crimes de tráfico de influência e advocacia administrativa praticados na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB) para favorecer negócios privados.
Desta vez, os alvos são pessoas que ocupam cargos comissionados, parentes e conhecidos que procuram vantagens junto a elas, e teriam feito um conluio para ações criminosas. Segundo a Polícia Civil, há suspeita de favorecimento em pagamento de dívidas pela Secretaria de Saúde ao Hospital Home. Também são apuradas supostas irregularidades envolvendo mudança de destinação de uma área no Lago Norte para a ampliação do Shopping Iguatemi, além de ilegalidades em contratos firmados pela Casa Civil.
As investigações mostram que teria sido paga a quantia de R$ 1 milhão “a título indenizatório e sem cobertura contratual” à unidade de saúde em 2015. Para a polícia, a data demonstraria influência da ação dos servidores. Interceptações telefônicas revelariam a “intermediação para que o pagamento fosse efetivado” em momento em que o governo não estava pagando ninguém, alegando problemas em caixa.
Segundo as apurações, representantes do Iguatemi estiveram no Palácio do Buriti em 2016, para tentar ampliar a área de ocupação no Lago Norte. O pedido teria sido negado em 2017 pela Secretaria de Habitação, com base na Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos). Uma semana depois, os executivos pediram para que o assunto fosse reconsiderado. Empresários chegaram a almoçar com o administrador regional. A iniciativa poderia chegar ao Legislativo, usando a influência para alterar a lei.
Envolvidos
Um dos alvos é o assessor especial da Casa Civil Marcello Nóbrega. Ele era subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde e coordenava os pagamentos da pasta na época. O nome dele foi citado na CPI da Saúde, da Câmara Legislativa. Denunciado na Operação Caixa de Pandora, Marcelo Carvalho de Oliveira também é investigado. Ele é ex-executivo do Grupo Paulo Octávio, que construiu o shopping supostamente envolvido.
Outros alvos são Leonardo Rocha de Almeida Abreu (irmão do chefe de Gabinete da Casa Civil, Guilherme Rocha de Almeida Abreu), e o administrador do Lago Norte, Marcos Woortmann. De acordo com a polícia, também estariam envolvidas duas pessoas ligadas ao deputado Rodrigo Delmasso (Podemos). São eles o ex-chefe de gabinete Luiz Fernando Messina e o funcionário Hermano Gonçalves de Souza Carvalho, que foi secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Agnelo Queiroz (PT).
Nesta terça-feira (7), foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão na casa e no local de trabalho dos suspeitos, no gabinete do assessor institucional da secretaria da Casa Civil do Governo de Brasília, no gabinete do administrador regional do Lago Norte e no escritório e casas de executivos do Iguatemi, em São Paulo e no DF. Os crimes teriam sido praticados desde 2015.
Coleta de provas
Os mandados foram expedidos pela 4ª Vara Criminal de Brasília após investigações iniciadas em 2015, quando surgiram elementos de prova que indicavam atuação ilícita desse grupo. A fase da operação busca a coleta de provas e ninguém foi preso. Foram apreendidos computadores, documentos e celulares para robustecer os elementos já disponíveis na investigação. Indícios de crimes mais graves, como corrupção ativa e passiva, também apurados.
“São pessoas que orbitam vários cargos da administração pública. Sabemos que o tráfico de influência não existe só no poder executivo, acontece também no legislativo. O fato de ter a repetição de nomes indica que ainda estamos longe de ter ambiente em que as pessoas temam praticar crimes contra a administração pública”, afirma o delegado Fernando César Costa, titular da Coordenação Especial de Combate a Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).
A relação dos citados com campanhas ou apoio a chapas parlamentares em ano eleitoral não é, para a PCDF, motivo para influenciar as operações. “Interesses político-partidários não pautam a ação ou inação da polícia. Não é por isso que vamos trabalhar ou deixar de trabalhar. A Cecor trabalha com autonomia, sem ingerência do governo ou da direção da polícia. Estamos aqui na defesa da sociedade”, defende Fernando César Costa.
O nome da operação, 12:26, é uma referência ao Antigo Testamento da Bíblia. O trecho diz: “o homem honesto é cauteloso em suas amizades, mas o caminho dos ímpios os leva a perder-se”. Participaram dessa fase 12 delegados e 54 policiais.
Outros lados
O deputado distrital Rodrigo Delmasso (Podemos) mandou exonerar o funcionário do gabinete Hermano Gonçalves após ter conhecimento do envolvimento dele. A orientação é que a publicação saia imediatamente no Diário da CLDF. Luiz Fernando Messina, ex-assessor do parlamentar, já havia deixado a equipe.
“Infelizmente não temos controle do que as pessoas fazem fora das dependências do trabalho. Fiquei perplexo, extremamente triste e abatido com as notícias. A gente contrata as pessoas pelo currículo, que não mostra possíveis condutas irregulares. Até então eles não tinham comigo propostas de atitudes erradas que não aceito e não concordo”, afirma.
Em nota, o Shopping Center Iguatemi Brasília diz que todos os requerimentos inerentes aos planos de expansão do empreendimento foram devidamente protocolados atendendo aos trâmites legais.
Também em nota, o Hospital Home diz que “refuta veementemente” a suspeita. De acordo com a unidade, ocorreram pagamentos de Contrato de Prestação de Serviços Hospitalares de internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) assinado em 2010, com término em fevereiro de 2015.
“Após o término do referido contrato e a comprovação de que as obrigações cabíveis ao HOME foram integralmente adimplidas, a Secretaria de Saúde ainda deve ao Hospital a quantia de R$ 7. 757.476,46”, informa a nota. O pagamento está em processo de execução administrativa. O Home diz que se coloca à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários.
A defesa de Marcelo Carvalho diz que desconhece os fatos apontados pela operação e que o citado não trabalha para o grupo há oito anos. Luiz Fernando Messina não quis se pronunciar.
O JTB não conseguiu contato com Marcos Wortmann, Marcello Nobrega, Leonardo Rocha de Almeida Abreu e Hermano Gonçalves de Souza Carvalho.
Procurado, o Palácio do Buriti ainda não pronunciou sobre o caso.
Fonte: Times Brasília
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