POLICIAIS E MILITARES ELEGERAM 50 PREFEITOS E 807 VEREADORES
De cada dez profissionais de segurança que se candidataram, um foi eleito; três capitais terão delegados e um capitão disputando o segundo turno
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Conseguir 10% de sucesso nas candidaturas é um percentual alto para um tipo de carreira específico. Indica que os policiais que enveredam para a política partidária consolidaram um espaço político significativo e que não pode ser visto apenas como fruto do cenário de medo, violência e crime do país. Os resultados das eleições deste ano mostram que, se por um lado o direito de participação de policiais na política, assegurado pela Constituição de 1988, está garantido e precisa ser respeitado, por outro lado a baixa governança da forma como esse direito é exercido pode provocar privilégios e precisa ser repensada.
Em um exemplo prático, um policial que deseja ser candidato deveria se desincompatibilizar de sua função nos mesmos prazos e condições de qualquer outro servidor público, em abril do ano da eleição. Contudo, em um privilégio inoportuno, os policiais podem aguardar a confirmação dos seus nomes pelas convenções partidárias, por volta do mês de agosto de um ano eleitoral, para se afastar e concorrer ao cargo pretendido. São ao menos quatro meses de vantagem sobre os demais servidores públicos, nos quais a população continuará associando suas imagens às suas respectivas corporações.
Ou seja, nenhuma outra carreira pública trabalha com limites tão fluidos e que viabilizam uma taxa de sucesso eleitoral tão significativa. Mas essa taxa não é igual em todos os estados e, em alguns, ela é ainda maior. Ainda segundo os dados da piauí, do total de policiais candidatos aos cargos de vereadores no estado de Mato Grosso, 21,5% deles foram eleitos. Naquele estado, 1 em cada 5 candidatos policiais ao cargo de vereador conseguiu se eleger – a capital, Cuiabá, elegeu três policiais militares para vereador. Outros doze estados elegeram, proporcionalmente, mais policiais do que a média de 10,2% anteriormente mencionada. Entre eles, vale destacar Alagoas, com 18,5%; a Paraíba, com 14,7%; e o Rio Grande do Norte, com 14,4%.
No Amazonas só 3,4% dos policiais candidatos ao cargo de vereador conseguiram se eleger. No Rio de Janeiro, esse percentual é de 5,4%. E, em São Paulo, de 8,2% – na capital, São Paulo, nenhum policial militar foi eleito vereador. No Ceará, palco do motim dos policiais militares em fevereiro deste ano, 9,4% dos policiais candidatos se elegeram – Sobral, local do confronto entre policiais amotinados e o senador Cid Gomes, que avançou sobre o quartel da PM com uma retroescavadeira, não elegeu nenhum policial.
Entre os partidos, o MDB elegeu 19,8% dos policiais que se candidataram a vereador pela legenda (18,6 se somados todos os cargos), seguido pelo PP, com 18,5%, e pelo PSD, com 17%, em um sinal de que a centro-direita conseguiu um desempenho muito superior aos partidos de direita. O Republicanos, que abriga os filhos do presidente Jair Bolsonaro e é tido como braço auxiliar da Igreja Universal, elegeu apenas 8,5% dos policiais candidatos a vereador que nele encontraram abrigo. E esse percentual é inferior àquele obtido pelo PT, que elegeu 9,7% dos policiais que se candidataram aos cargos de vereador pela agremiação. Quem mais perdeu foi o PSL, que só conseguiu eleger 7,5% dos policiais que se candidataram pelo partido este ano.
Diante desses percentuais, uma mudança importante ajuda a entender tal movimento: em 2018, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 77,7% dos policiais candidatos estavam em partidos de direita e ultradireita. Em 2020, só 57,5% dos policiais saíram candidatos por tais partidos. Os partidos de centro-direita, que tinham perdido espaço em 2018, ganharam quase toda essa diferença e lançaram 30,2% dos policiais candidatos. Uma das explicações é o pragmatismo dos policiais para aproveitarem a força da estrutura partidária. O MDB, por exemplo, lançou 40,8 mil candidatos a vereador no país e elegeu 7.320 (17,9%), proporção um pouco menor que a observada entre os policiais candidatos da legenda.
Para o cargo de prefeito, é destaque o fato de que dois delegados, sendo uma mulher, estão no segundo turno em capitais: o Delegado Eguchi, em Belém, e a Delegada Danielle, em Aracaju. O Capitão Wagner está na disputa em Fortaleza. A Major Denice, em Salvador, ficou em segundo lugar, mas naquela cidade o primeiro colocado venceu em primeiro turno. Com exceção desta última, filiada ao PT, os três nomes anteriores flertaram com o bolsonarismo em algum momento das suas campanhas, mesmo que modulando o discurso ora em direção do combate à corrupção defendido pelo ex-ministro Sergio Moro, ora pelo discurso de ordem conservadora mais associado ao presidente Bolsonaro.
Revista Piauí
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