Ex-participante do quadro “Lata Velha” acusa Globo de fraude
João Vieira diz que entregou seu Opala SS 1979 para ser reformado, mas recebeu de volta um Chevrolet Caravan
Ambientalista denunciou que seu carro foi trocado de forma fraudulenta Foto: Reprodução/TV Globo
O ambientalista João Marcelo Vieira, ex-participante do quadro Lata Velha, do extinto Caldeirão do Huck, da TV Globo, acusa a emissora de ter cometido fraude durante a participação dele no programa, em 2005.
De acordo com João, em vez de receber seu Opala SS 1979 reformado, que era a premissa do quadro, ele recebeu um Chevrolet Caravan fraudado.
O pedido de ressarcimento feito pelo ambientalista por danos causados pela emissora, no valor de R$ 1 milhão, foi considerado improcedente, em 2016, pela juíza interina que assumiu o caso. João afirma, porém, que entrará com novo processo. A história foi divulgada nesta sexta-feira (19) pelo portal UOL.
COMO TUDO ACONTECEU
A situação começou há 16 anos, quando João Marcelo, conhecido como Marcelo Valente, teve sua carta de inscrição no programa entregue em mãos a Luciano Huck pelos apresentadores Rodrigo Hilbert e Fernanda Lima, com quem o ambientalista diz ter uma boa relação até hoje.
– O Opala foi o presente de um tio ao meu pai. Depois que meu pai faleceu, esse tio me fez prometer que jamais passaria o carro para frente. Ele era conhecido porque ficava estacionado em frente ao meu quiosque, no Rio de Janeiro. Sofreu com a ação do tempo, tinha partes enferrujadas, mas estava inteiro, alinhado, com rodas originais e carburador novo – diz João Marcelo.
Vieira conta que, então, viu em sua participação no programa uma oportunidade de ter o carro completamente reformado. Entretanto, após as gravações, o ambientalista diz que a situação virou um problema, já que após receber o veículo, dois meses depois do programa, ele percebeu que se tratava de outro carro, com placa diferente, e até com, segundo ele, uma assinatura falsa no contrato.
– O que mais me assustou é que a documentação estava no meu nome sem eu ter assinado nada. Depois, descobri que o carro entregue foi comprado em um leilão por R$ 4.200. Usaram uma assinatura falsa no contrato – afirma.
João destaca que, após muita insistência e até com intermediação de Fernanda Lima, ele conseguiu marcar uma reunião com a Globo. No encontro, ele diz ter recebido a promessa de que seu Opala seria devolvido com as mesmas modificações feitas na Caravan. Porém, quando o carro com a placa correta foi entregue, ele descobriu que o veículo que recebeu desta vez era adulterado.
– Como foi comprovado por duas perícias, uma particular e outra realizada pela Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), o carro entregue era adulterado. Colocaram o chassi do Opala na Caravan, uma fraude. Eu seria preso se fosse pego com ele em uma blitz – ressalta.
De acordo com o site UOL Carros, que teve acesso ao exame criminalista, e duas perícias que foram anexadas ao processo por João Marcelo como provas, um laudo apontou que a assinatura utilizada na autorização de transferência da Caravan para o nome do ambientalista realmente era falsa.
Além disso, duas perícias, uma particular – realizada pela empresa Terceira Visão Perícias e Vistorias – e a outra da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis do Rio de Janeiro indicaram vestígios de adulteração na numeração identificadora do chassi.
JULGAMENTO DA AÇÃO
Em uma sentença dada em 2016 pela juíza em exercício Priscila Fernandes Miranda Botelho da Ponte, da Justiça do RJ, o pedido do ex-participante do Lata Velha foi julgado improcedente e João ainda foi condenado ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios na ordem de 10% do valor da causa (R$ 100 mil), observada a gratuidade de Justiça.
Na decisão, a juíza considerou que “o autor entregou um carro em estado precário, sem valor comercial e sem condições de tráfego, e recebeu veículo totalmente reformado e estilizado, com valor comercial de R$ 120 mil (conforme proposta de compra)” e afirmou que João teria concordado com os termos do programa.
– O autor concordou com os termos do programa, tanto que se sujeitou inclusive a aceitar as transformações que seriam feitas pelas rés, sem deter qualquer ingerência sobre a reforma. Sujeitou-se ainda ao risco de perder o bem que afirma ter tanta esmera – declarou a magistrada.
Em relação à documentação, a juíza declarou que não havia “qualquer notícia acerca do encerramento das investigações pela autoridade policial” e que não se podia atestar “que o documento final tenha sido objeto de fraude ou qualquer outro elemento, eis que sequer comprovada a apuração do crime na esfera policial. Fato é que, se houve alguma fraude, deveria ter sido comprovada”.
DEPRESSÃO APÓS DECISÃO JUDICIAL
João conta que entrou em depressão após a sentença. Segundo ele, todo esse caso trouxe apenas transtornos, como o fechamento de seu quiosque e sua mudança para Cabo Frio (RJ), na Região dos Lagos, onde mora atualmente.
– Não aguentava mais receber pessoas falando do carro o tempo todo em meu quiosque. Tive de deixar tudo e mudar de cidade. Mas o que mais me chateou em toda a história – além da Justiça não tomar meu depoimento no caso e ignorar as provas apresentadas – foi ler vários comentários dizendo que eu estava querendo aparecer – diz.
Triste com a situação, João se disse decepcionado com o trabalho realizado e especialmente com o apresentador Luciano Huck que, segundo ele, usou sua história e “nem um tchau” lhe disse ao final das gravações.
– Deixei [o carro] em um terreno, mas a minha vontade era deixar na frente do Projac. É uma decepção imensa, principalmente com o Luciano Huck, que sabe de tudo, usou minha história e nem um “tchau” me disse no fim da gravação. Sempre deixei claro que abriria mão do processo se eles fizessem uma retratação pública no programa – completa.
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