Enfim, uma boa notícia sobre o governo do ex-presidiário: “O desastre vem mais devagar”
OPINIÃO
Em mais um texto brilhante, publicado originariamente na Revista Oeste, o inigualável jornalista J.R. Guzzo aponta a única coisa positiva que se pode falar sobre o governo Lula: Pelo menos até agora, ele parece estar tendo mais dificuldades em seu plano geral para destruição do Brasil.
Sim, é a realidade, que não conforta, mas que nos dá ânimo para prosseguir na luta contra esse mal.
Abaixo, a íntegra do texto de Guzzo:
A única coisa positiva que se pode falar sobre o governo Lula é que ele parece estar tendo, pelo menos até agora, mais dificuldades do que se previa em seu plano geral para a destruição do Brasil.
O plano, no papel e na discurseira do presidente, é impecável. Não existe praticamente nenhuma medida proposta, falada ou sugerida pelo governo que não torne tudo pior do que está — ou que tenha um mínimo de cabimento para um país que precisa, com urgência máxima, fazer com que sua economia cresça de verdade.
Também não existe nada, em nenhuma ação do poder público, que torne a sociedade mais equilibrada ou crie mais oportunidades para as pessoas melhorarem de vida.
Pense em alguma coisa ruim para o brasileiro comum — o governo Lula quer fazer, está tentando fazer ou promete fazer.
Pense em alguma coisa boa: não apareceu nenhuma até agora.
O Brasil, em vista disso, deveria estar dando a esta altura mais sinais de ruína do que se pode perceber — mas não está. Ao que parece, demolir um país deste tamanho não é tão fácil assim. Talvez leve mais tempo do que se pensa. Talvez o que o governo pensa não seja aquilo que pode. Talvez aquilo que pode não seja aquilo que quer.
Esta é, em todo caso, a única esperança à vista — que as ideias de destruição acabem sendo maiores do que a capacidade real de destruir.
O crescimento da economia no primeiro trimestre de 2023 é uma excelente demonstração disso.
O PIB brasileiro cresceu 1,9%, um índice muito bom para estes tempos de paradeira global — foi, na verdade, um dos maiores do mundo.
Só que o crescimento aconteceu contra a vontade do governo Lula: foi atingido unicamente pelo vigoroso avanço do agronegócio nesse período, e se dependesse da ação oficial o agro brasileiro teria ido para trás.
Desde o primeiro dia, o governo declarou o produtor agropecuário como seu grande inimigo e de lá para cá vem sabotando sua atividade em tudo o que pode. Mas aí é que está: nada do que fez até agora foi suficiente para diminuir a produção rural ou a procura internacional pela soja, pelo milho ou pela carne do Brasil.
A última agressão é um conjunto de ideias que a ministra do Meio Ambiente anunciou para “combater a destruição das florestas”, como diz sua propaganda. Sob o disfarce da virtude ecológica, o plano do MMA e das ONGs brasileiras e estrangeiras que vivem ao seu redor deixa claro, mais uma vez, a obsessão em tratar a agropecuária nacional, em princípio, como atividade criminosa. É o retrato perfeito do Sistema Lula: enquanto o agronegócio salva a economia brasileira, seu governo vem com ideias não de incentivo ao campo, mas de hostilidade.
Coisas desse tipo não foram capazes de diminuir nem a área plantada, nem a safra, nem as exportações, nem o valor em dólar da produção rural; fazem barulho na mídia, mas não mudam a realidade no campo.
Vai continuar assim?
A resposta a isso vai estar nos fatos do dia a dia; aguardemos, agora, os números do segundo trimestre. O certo é que o governo não conseguiu até agora desfazer a principal força da economia brasileira de hoje — age para isso, mas não está conseguindo.
É importante que esteja assim, porque em todo o resto a sua ação é uma calamidade.
O que dizer, por exemplo, da treva que Lula está criando nas relações do Brasil com a Europa?
Sua última manifestação a respeito é puro atraso de vida. Diz que não vai assinar os projetados acordos comerciais entre a União Europeia e o Mercosul — e, pior ainda, orgulha-se desse gesto que considera heroico. É algo realmente extraordinário: Lula acha que a população brasileira fica mais rica, ou melhor de vida, se o Brasil se afastar da Europa, em vez de se aproximar. Os acordos, como se sabe, aumentam a abertura dos mercados europeus para os produtos brasileiros e estabelecem, em troca, uma maior abertura do mercado brasileiro para os produtos europeus. É o que se chama de livre comércio — e, naturalmente, abre oportunidades maiores nos mercados mais ricos, que têm mais consumidores e onde há mais capacidade de comprar, como é o caso dos países da Europa.
Lula acha o contrário. Para ele, a possibilidade de vender mais para os países da União Europeia é um mau negócio.
Sua motivação, no caso, é a pior possível — é o protecionismo na sua forma mais primitiva, esse mesmo que há décadas impede o Brasil de crescer e de criar riqueza, para beneficiar uma elite inepta, ignorante, incapaz de competir e dependente do Erário.
A União Europeia, com muita lógica, espera que as empresas europeias possam vender seus produtos para o governo brasileiro — assim como as empresas brasileiras estariam livres para vender seus produtos aos governos europeus.
É livre comércio ou não é? Lula não quer. Diz que as compras públicas devem ficar fora do acordo — e que o governo do Brasil vai continuar comprando só de empresas brasileiras. Por quê? Porque a indústria brasileira faz produtos ruins e caros, que o mercado externo não quer comprar; mas o governo do Brasil compra, com dinheiro público, e aí ficam todos muito contentes, industriais e governantes. Quem paga a conta, no final, é você.
Nada deixa tão clara a mentalidade econômica medieval de Lula do que a justificativa central que ele dá para a sua postura protecionista: segundo ele, as compras feitas pelo governo são “a única” maneira de fazer com que a indústria brasileira sobreviva. Não é a competência. Não é a qualidade dos produtos. Não é o trabalho, nem a pesquisa, nem a tecnologia, nem o investimento. Não é a capacidade de superar os concorrentes. É o dinheiro do pagador de impostos brasileiro. Sem isso, diz Lula, não há indústria nacional.
O presidente entregou-se, depois que assumiu o cargo, à fantasia de que pode se tornar um “líder mundial” — incapaz de resolver qualquer dos problemas reais do Brasil, imagina que sua vocação seja resolver os problemas do mundo.
É um bom sinal; quanto mais tempo fica longe daqui, mais se enterra como presidente e mais deixa que se compliquem as suas estratégias de acabar com o país.
Tem conseguido, até o momento, ser apenas ridículo.
Em cinco meses no governo, já fez viagens a dez países diferentes; torra dinheiro público de um país pobre hospedando-se em hotéis de quase 40.000 reais a diária e queimando combustível de avião a jato.
Não poderia, com esses espasmos de brega descontrolado, provocar mais desprezo entre os grandes que supõe impressionar.
Como não tem ideia do que está fazendo, produz o mais agressivo conjunto de declarações cretinas que qualquer presidente brasileiro já produziu em suas falas públicas, aqui ou no exterior.
Sua campeã, até agora, é a afirmação de que a invasão da Ucrânia pela Rússia é responsabilidade “dos dois países” — um primeiro caso, em toda a história universal, em que uma nação é responsável pela invasão militar do seu próprio território.
Torna-se a cada dia um estorvo para os Estados Unidos e a Europa, que até outro dia o consideravam um salvador da democracia no Brasil e no Terceiro Mundo; está virando um chato para os que realmente resolvem as coisas.
Sua tentativa de socorrer a Argentina com dinheiro do Banco do Brics, só porque arrumou ali um emprego para Dilma Rousseff, foi tratada com risadas; chinês empresta dinheiro para receber de volta, não para dar fôlego a regimes falidos. Deu para falar em “governança mundial”, e acha que oferecendo a Amazônia para a “internacionalização” vai se transformar num novo Nelson Mandela para europeus com carência ecológica e a menina Greta.
Tenta transformar o ditador Nicolás Maduro em vítima de uma “narrativa”. Ele seria um pobre democrata, perseguido pela má imagem que os seus inimigos criaram — e quem destruiu a Venezuela não foi a sua ditadura, foi o “embargo” econômico norte-americano.
Prega o fim do dólar como moeda internacional de troca. Sua última realização é indispor-se com a Europa, a quem já tinha acusado de colaborar com a guerra na Ucrânia, por causa dos acordos comerciais com o Mercosul.
Não se vê, em suma, como, quem e o que ele vai liderar na sua posição de figura mundial — meia dúzia de ditadorezinhos latino-americanos?
Enquanto estiver fazendo papel de palhaço terceiro-mundista pelo mundo fora, e tentando entrar de penetra na sala dos grandes, Lula fica mais afastado do Brasil.
E, se continuar assim, as dificuldades que está tendo para conduzir a nação ao colapso tendem a ficar maiores do que têm sido. Nos dias de hoje, é a boa notícia possível.
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