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Todo castigo é pouco!: Profundos cortes na previdência das Forças geram revolta

A grave apreensão entre militares: ameaças de profundos cortes na previdência das Forças Armadas geram revolta
A opinião generalizada entre militares é que o governo não está em sintonia com as necessidades da tropa



As recentes discussões sobre possíveis mudanças na previdência dos militares têm gerado um grande volume de comentários, especialmente em sites como Montedo e Revista Sociedade Militar, os dois principais canais de comunicação que se debruçam sobre questões relacionadas aos direitos dos militares brasileiros.

A Revista Sociedade Militar realizou uma análise detalhada das reações dos comentaristas nesses sites, bem como em grupos restritos de militares no Whatsapp, focando nas declarações da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que afirmou que o governo estuda três medidas para ajustes na previdência dos militares. Entre as mudanças, destaca-se a possibilidade do fim da pensão para filhas de militares, conforme foi comentado em postagens do blog de Lauro Jardim. O ministro José Múcio teria expressado a intenção de encerrar o benefício, que já foi extinto para os militares que ingressaram nas Forças Armadas após 2001.

Índices bem abaixo do esperado para a correção dos salarios

Militares das Forças Armadas na reserva remunerada e na ativa nos últimos dias têm recebido informações que não agradam, com a veiculação em grandes jornais sobre o percentual de 9% de reajuste, dividido em dois anos. Um percentual de reposição inflacionária bem abaixo do que se pretende conceder para outras categorias no serviço público federal. Com base nos comentários encontrados nos canais mencionados, avaliamos os sentimentos expressos – positivos, negativos e neutros – e buscamos identificar a opinião predominante sobre as modificações propostas.

A análise dos comentários feita por Inteligência Artificial, com capacidade de analisar centenas de postagens rapidamente, demonstra que a maioria das reações foi negativa em relação à possibilidade de mudanças na previdência dos militares. Cerca de 65% dos comentários expressaram insatisfação ou frustração com as propostas mencionadas pela ministra Simone Tebet. Diversos militares lembram que, ao longo dos anos, muitos direitos já foram retirados, citando, por exemplo, a Medida Provisória 2215 de 2001, que eliminou benefícios como a promoção ao posto/graduação acima ao se transferir para a reserva, adicional por tempo de serviço, e licença especial.
A insatisfação também foi evidenciada por comentários que mencionam o fato de que os militares já não possuem hora extra, adicional noturno ou insalubridade, e que enfrentam descontos consideráveis em seus contracheques. Um dos comentaristas ironizou a afirmação de que há benefícios excessivos na categoria militar, questionando:

“Onde estão vendo excesso de benefícios? Acho que estão vendo a categoria errada, quem tem esse excesso não somos nós!“.

Essa perspectiva revela o descontentamento de grande parte dos militares, que se sentem constantemente prejudicados em reformas e ajustes. Vários comentam sobre as jornadas de trabalho acima da média dos trabalhadores comuns. Além disso, há uma clara percepção de injustiça quando se compara a situação dos militares com outras categorias do funcionalismo público, que, segundo alguns, não sofrem as mesmas pressões ou cortes.

Sentimento de insegurança e incerteza

Além das críticas, outro aspecto comum nas respostas é o sentimento de insegurança. Cerca de 20% dos comentários expressaram preocupações com o futuro da carreira militar e as possíveis consequências de mais um ajuste na previdência. A incerteza sobre o impacto dessas medidas é palpável, e muitos comentaristas mencionaram o risco de o militar ser tratado como um servidor público comum, o que poderia representar uma perda significativa de direitos e benefícios que são considerados fundamentais para a carreira militar.

Esse sentimento é reforçado por comentários como o de um usuário que declarou: “Isso cheira a ensaio para o INSS. Ninguém está seguro, nem ativa nem reserva, mas se algo começar, deve começar pelos que ainda vão se aposentar, pessoal que está na ativa”. A referência ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como um possível destino para a previdência militar assusta muitos, que veem essa possibilidade como uma desvalorização das particularidades da carreira.

Além disso, outros comentaristas destacam que qualquer mudança poderia impactar de maneira mais severa aqueles que estão mais próximos da aposentadoria, especialmente graduados e soldados, que, na visão de alguns, são frequentemente os mais prejudicados em reformas anteriores.
As visões neutras e a espera por mais informações

Embora a maioria dos comentários tenha expressado sentimentos negativos, 10% das respostas podem ser consideradas neutras. Esses comentaristas demonstraram uma postura de expectativa, aguardando mais detalhes sobre as propostas antes de formarem uma opinião definitiva. Muitos deles destacaram a falta de clareza nas declarações da ministra Simone Tebet e de outros membros do governo, mencionando que, sem informações concretas, é difícil avaliar o impacto das mudanças.

Um comentarista escreveu: “A reportagem só cria animosidade, mas não diz nada de concreto, em contraponto ao título”. Esse tipo de observação reflete a necessidade de mais transparência por parte do governo, especialmente em um tema tão sensível quanto a previdência dos militares. A falta de detalhes sobre as três medidas propostas gera um ambiente de especulação e, consequentemente, contribui para a proliferação de teorias e interpretações variadas entre os militares.

“Assinará recibo de incompetente. Este benefício teve fim da sua adesão, para o pessoal da ativa, em 2000! Para ter um efeito eficaz, afetará as pensionistas dos Generais também!’, é outro dos comentários, este feito em um grupo de WhatsApp por um suboficial.

Os comentários neutros indicam que há uma parte do público que prefere adotar postura mais cautelosa, aguardando que o governo apresente informações mais claras antes de tirar conclusões precipitadas.
Opiniões positivas são raras

Embora a maioria dos comentários seja negativa ou neutra, também encontramos 5% de reações positivas. Alguns militares se mostraram favoráveis a uma revisão da previdência, especialmente em pontos que eles consideram privilégios inadequados. Entre esses comentários, destaca-se a crítica às pensões para filhas maiores e sadias, um benefício que, para alguns, é um privilégio excessivo e que deveria ser revisto. Um usuário afirmou: “Tem mais aí que não mexeram – privilégios odiosos – pensão de filhas maiores e sadias, as que vão nascer aposentadas e podendo casar, os assim chamados mortos vivos”.

Esses comentários positivos, embora em minoria, sugerem que poderia haver ainda espaço para um debate mais aprofundado sobre a estrutura da previdência militar, especialmente no que diz respeito a benefícios que não são mais considerados justos por alguns membros da própria categoria.
A opinião majoritária: frustração com reformas passadas e ceticismo em relação ao governo atual

Com base nos percentuais observados, é possível concluir que a opinião majoritária entre os militares é de frustração com o histórico de reformas e ceticismo em relação às propostas do governo atual. Muitos vêem as mudanças como inevitáveis, mas se ressentem do fato de que, em reformas passadas, como a de 2019, os maiores prejudicados foram os graduados, que são os cabos, sargentos e subtenentes, enquanto os oficiais de patentes superiores teriam sido poupados dos prejuízos, ficando com os benefícios.Comentários no site Montedo

Essa percepção é reforçada por comentários que destacam a diferença de tratamento entre generais e praças, como o de um usuário que ironizou: “Eles sempre pegam o topo como exemplo. Pegam os oficiais generais como exemplo e acham que toda tropa é assim”. Esse tipo de comentário reflete um sentimento de injustiça entre os militares de patentes mais baixas, que acreditam sofrer muito com as mudanças porque a imprensa entende que o os benefícios concedidos para os oficiais generais chegam ao restante da tropa. Alguns mencionam ainda a desilusão com o governo anterior, que acreditavam ser aquele que corrigiria perdas passadas da categoria.
Comentários no grupo SociedadeMilitar no Whatsapp (07062024)

A opinião generalizada é que o governo atual não está em sintonia com as necessidades dos soldados, e há um sentimento de abandono por parte dos comandantes militares, que, segundo alguns, estariam mais preocupados em manter seus próprios privilégios do que em defender os interesses da tropa como um todo.

Atualmente as Forças Armadas são comandadas pelo Almirante de Esquadra Marcos Olsen, General de Exército Tomás Miguel Miné e o Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, todos empossados no início do atual governo e o distanciamento entre as altas patentes, representadas pelos comandantes, e o restante dos militares é repetidamente mencionado nos comentários da tropa, reforçando a sensação de desamparo e insatisfação.
Uma categoria insatisfeita e apreensiva

A análise dos comentários sobre as possíveis mudanças na previdência dos militares revela um cenário de descontentamento generalizado. Com 65% de reações negativas, 20% de comentários expressando insegurança, 10% neutros e apenas 5% de respostas positivas, fica claro – portanto – que a maior parte dos militares está preocupada com o impacto dessas mudanças em suas vidas. A falta de clareza nas propostas e o histórico negativo de reformas anteriores só agravam esse sentimento, tornando a categoria cada vez mais cética em relação ao governo e à própria liderança militar.

Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
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