Estadão: Maduro rouba eleição, e Brasil vai à posse
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai enviar uma representante à nova posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro, marcada para 10 de janeiro. A escolhida é a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira.
O editorial do jornal O Estado de S.Paulo desta terça-feira, 7, destaca que os exegetas do Palácio do Planalto se apressaram em tentar edulcorar a decisão, destacando que o presidente vai ficar no Brasil e não vai enviar nenhum ministro a Caracas. Além disso, afirmaram que a presença da embaixadora não significa que o governo brasileiro reconheceu o resultado da eleição fraudada com mão de ferro pela ditadura chavista.
“Mais um pouco e dirão que o envio da representante brasileira é uma sanção diplomática para marcar posição”, afirma o Estadão.
Para o jornal, como tudo o que diz respeito à imoral relação de Lula com Maduro e sua ditadura, dá-se aos fatos e aos gestos nomes distintos do que realmente são.
“Sejamos claros, contudo: só a presença de uma representante do Brasil, independentemente de seu escalão, é uma forma explícita de chancela, aceitação e conivência institucional por parte do governo brasileiro”, avalia a publicação. “É o reconhecimento da legitimidade da posse e, por efeito, do resultado da eleição que garantiu o novo mandato a Maduro de maneira reconhecidamente fraudulenta.”
“Mas, na falta de coragem de admiti-lo de maneira oficial, inventa-se um reconhecimento oficioso”, acrescenta o texto.
No fim das contas, dá no mesmo: o envio da embaixadora à posse é o estágio final de uma crise contratada há meses, quando o governo Lula resolveu equilibrar entre suas obrigações constitucionais de defesa da democracia e os compromissos ideológicos do lulopetismo com o chavismo.
O Estadão destaca que, embora o Palácio do Planalto hesite em reconhecer oficialmente o resultado, o fato é que o governo brasileiro jamais admitiu sequer duvidar abertamente da lisura da eleição e do poder de Maduro, apesar de todas as evidências e dos alertas em contrário.
Quando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um simulacro da Justiça Eleitoral que se submete às ordens do Palácio de Miraflores, declarou a vitória de Maduro, sabia-se que o ditador não sobreviveria politicamente se respeitasse liberdades individuais e a soberania da vontade popular. “Foi porque os chavistas sabiam disso que, do início ao fim, o processo eleitoral foi conspurcado”, afirma o jornal.
Oposição é perseguida por Maduro
A oposição não só jamais teve chance real de derrotá-lo, como foi perseguida sistematicamente, incluindo a cassação sumária de candidaturas que, segundo pesquisas independentes, poderiam vencer Maduro, prisões políticas de oposicionistas, intimidação de adversários e violência do Estado contra quem ousou protestar em público contra o regime.
Antes do pleito, o ditador fez ameaças, prevendo uma “guerra civil” caso não fosse eleito e prometendo que o país testemunharia um “banho de sangue”. Depois, autoproclamado vitorioso, ele continuou a promover arbitrariedades.
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro é acusado de organizar grupo de repressão | Foto: Reprodução/Instagram
Dezenas de manifestantes foram mortos e cerca de 2 mil foram detidos nos meses seguintes. Há relatos de que as milícias paramilitares conhecidas como “Coletivos”, a Gestapo chavista, intimidaram famílias e jornalistas.
O oposicionista Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória eleitoral, é caçado pelas instituições de Maduro, que ofereceram uma recompensa de US$ 100 mil por informações que levem à sua prisão.
“Tudo isso sob o silêncio obsequioso do governo lulopetista ou sob declarações que beiraram o escárnio – como aquela em que Lula declarou que a Venezuela realiza mais eleições que o Brasil, e por isso é um país democrático”, opina o Estadão.
“Ou quando o chanceler […] Celso Amorim, cobrado a fazer o mesmo que diversos países latino-americanos que haviam emitido notas veementes de repúdio contra Maduro, afirmou, em tom jocoso: ‘Sou do tempo da bossa nova – a gente nunca sobe o tom’.”
“Nunca, claro, desde que se trate de tiranos companheiros”, destaca o texto. “Depois da eleição, o regime chavista passou a criticar abertamente Lula e o Itamaraty, chegando a afirmar que o presidente brasileiro estaria a serviço da CIA, o serviço secreto americano.”
“Nem o Brasil reagiu, nem como se reafirma agora, quer distância do chavismo”, conclui o Estadão. “O lulopetismo é irremediável.”
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